segunda-feira, 9 de março de 2009

O Dom

Não sei falar. Meus argumentos são fracos e infantis quando me expresso pela fala. Melhor seria ficar calada e arranjar um canto para escrever. Quando falo, é demais ou de menos. Quando de menos, não me faço entender. Quando demais, acabo dizendo coisas que dão margem a múltiplas interpretações e, invariavelmente, são ofensivas, magoantes, nubla o tempo, os olhos, acaba com o dia. E depois para dizer que verde não é vermelho não adianta mais. Já foi dito e interpretado daquela maneira. Mas não era nada daquilo que eu queria dizer. Era algo que passava por aquele caminho, mas fazia um desvio que amenizava a situação. Mas como meu discurso fraco-infantil saiu daquele jeito, ouço o que não mereço ouvir. E aí? E depois? Recolho minha bolsa e passo o resto do dia entre lágrimas e bolo de chocolate. A tristeza é tão grande que a temperatura do corpo cai e eu não sinto calor nesse Rio de Inferno. Shee percebe minha tristeza e põe sua patinha no meu braço, me acompanha com o olhar quando vou fungando do quarto para o banheiro, encosta seu corpinho em mim, e o focinho gelado/molhado na dobra do meu cotovelo. Um amigo diz que não sabe como alguém que se expressa tão claramente na escrita pode dizer tanta bobagem em voz alta. Minha terapeuta dizia que comigo a sessão era dividida em duas partes: o que eu falava no consultório e o que eu levava escrito. Já são dois especialistas na minha humilde pessoa dizendo que algo está errado em minha oratória. Estou investigando um modo de quietude. Quando tiver que argumentar fraco-infantilmente, calar-me-ei. Se for imperativa a minha argumentação, que seja por escrito. Demora um pouco mais, em compensação os olhos permanecerão secos. De ambos os lados.

MPV – março 2009

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