segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Nasci Velho

Nasci velho, embrutecido, nada a ver com Benjamin, do excelente conto de Scott Fitzgerald, cuja essência e ela somente, encontra-se no filme de David Fincher. Nasci antiquado, preconceituoso, reacionário mesmo. Grande juiz dos casos de valor ocorridos em minha vila. Sorriso disfarçado-disfarçava a inconveniência das pessoas ao meu redor, sempre erradas. Se sorriam, se dançavam, se viviam, erravam. Minhas rugas eram internas, de preocupação constante com o olhar do inimigo, com o exame dos outros sobre mim mesmo. Covarde, ao ponto de não querer ver, medroso de olhar o outro lado dos conceitos que nasceram comigo, o velho e embrutecido.

Em um processo lento e tortuoso para mim, instantâneo para quem me conhecia, fui rejuvenescendo e aprendendo a ver com os olhos dos outros os casos alheios. Deu-se o inverso em minha vida. Aqueles a quem julgara por tantos anos, passaram a me julgar, todos que sorriam franziram os cenhos e com os punhos cerrados ao alto, brandiram nomes e correram a me encarcerar.

Já era tarde. A sucessão de mudanças já havia atingido o ponto do não retorno. Dali, não haveria volta. Covardes e preconceituosos, deixei-os pela estrada, busquei novos campos, conheci outros lados, invoquei novos conceitos, e dentre eles, o mais sagrado: a abertura total dos olhos, a busca do desconhecido, a curiosidade a me guiar, fazendo-me um novo homem, um homem novo, jovem no espírito, leve, sem rugas.

O caminho não é fácil e as tentações de peso são inúmeras. Mas nunca novamente serei o homem velho que era quando nasci.

MPV – fevereiro 2009

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