domingo, 30 de novembro de 2008

Casquinhas

Arranquei todas as casquinhas no fim-de-semana. Uma a uma puxei com a ponta da unha, deixei sangrar até chorar. Em pouco tempo a mistura de sangue e lágrimas formaram uma poça em meu coração. As pequenas feridas ficaram abertas e agora parece mais uma massa disforme em carne viva. Olhei, vi, ouvi, respirei e comecei a enrolar a massa em bandagens finas para recuperação.

MPV - novembro, 2008

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Premonição

Terás muitos outros, antes e depois, mas ele é quem terás amado por mais tempo, mais profundamente, porém, na superfície de seus olhos. Ele terá entendido tua alma mais e menos que todos, terá estendido as mãos todas as vezes que necessitares, mas, aí, dormirá a ruína de ambos. Ele será o teu compromisso e tua ausência, teu passado, teu desejo e a falta dele, tua senha, teu amigo, teu amante, teu distante. Ele te dará uma família que não é tua, mas que adotastes, e tudo farás para mantê-la. Todos os momentos em que te sentires perdida, lembrarás de sua firmeza, lamentarás sua fraqueza, lembrarás de seu abraço, lamentarás não tê-lo sempre. Sorrirás, porque sabes que, onde quer que estejas, ele existe, ele foi, ele será. Para sempre.

MPV - novembro, 2008

Ida e Volta

Na ida, mormaço na praça da Paz, um casal muito, muito, muito velhinho, sentado no banco de jardim, os dois de cabelos totalmente brancos, mãos dadas no colo dela, conversavam baixinho segredos de vida inteira. Podiam ser casados, amigos, amantes, ou tudo ao mesmo tempo.

Na volta, chuva forte na praça da Paz, o banco vazio e molhado, ninguém à vista, nem mãos dadas, ou abrigadas, aninhadas onde quer que estivessem. Para onde foram os dois?

domingo, 23 de novembro de 2008

Talk to me

Ele, de joelhos no meio da sala, gritou: "talk to me!", enquanto ela, dentro de si mesma, virou o rosto. Não tinha condições de falar nada, não queria ouvir, queria desaparecer na vida, na multidão, na cidade, no mundo. Desaparecer sem dar explicações. Desaparecer. Marcou o dia da partida e começou a arrumar as malas.

A cena toda era patética, ele segurava a cabeça com as mãos e soluçava, sem forças. Telefonava para amigos, visitava a família, andava à esmo pela areia da praia, voltava ao anoitecer. Já conhecera a insegurança, passara pelo desespero, pela argumentação, encontrara o imperioso silêncio em que ela se fechara.

No último dia, ele saiu cedo de casa, deixou a aliança na mesinha e a passagem na cômoda. Quando ela chegou mais tarde, viu primeiro a passagem. Segurou-a por longo tempo e deixou-a no mesmo lugar. Viu a aliança na mesa e soube que era tarde para falar.

MPV - novembro, 2008

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Zumbi

Feriado no Rio, sol, céu, mar. Ruas cheias, estradas cheias, mercados cheios. Quem saiu ainda não voltou, quem chegou está por aqui, quem ficou descansou depois da praia.

Ontem, feriado no Rio, sol, céu, mar, fiquei com a velha frase de Hermann Hesse ecoando em meus ouvidos "...Podemos compreender uns aos outros. Mas só cada um de nós sabe o sentido de si mesmo.”

Hoje, continuação do feriado no Rio, sol, céu, mar, eu reescreveria a frase da seguinte forma: "Não conseguimos compreeender uns aos outros se não sabemos o sentido de nós mesmos."

Então, feriado no Rio, sol, céu, mar, a ordem é encontrar o sentido de si mesmo, tentar compreender uns aos outros e dar um mergulho, por que ninguém é de ferro...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Lançamento

- Oiiiii! Cheguei cedo?
- Chegou! hahaha! É só semana que vem!
- Não acredito! Errei de terça!
- Peraí, deixa eu ligar para a Mary.
- Vem jantar aqui conosco! A gente tem que tratar bem, para voltar semana que vem, hahaha!

São mesmo os melhores momentos. Os enganos que transformamos em magia. Somos amigas há vinte e seis anos, é... voa... e o jantar foi maravilhoso, vinho, risos, causos e boa companhia. Semana que vem eu volto, Lucas vai lançar "Retorno ao Oriente", pela editora 7Letras.

Big Yellow Taxi

"Don't it always seem to go
That you don't know what you got till it's gone
They paved paradise and put up a parkin' lot"

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Após a tempestade

Após a tempestade vem... o dia de sol rachando, mar revolto e língua negra na areia, areia espalhada por todas as pistas, bueiros vomitando excessos da tarde anterior, carros enguiçados pelas calçadas, gente gripada e gente animada, fotos alagadas nos jornais pontuais.

Após a tempestade vem o hoje, vem hoje, vem o dia lindo de hoje, como se ontem não houvesse.
Um dia saberás...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Temporal

Após um fim-de-semana de sol e praia, caiu o mundo, chuva, lama, teto de apartamento, água, muita água e todo mundo com o pé na poça.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O sorriso é o que importa

- O Sorriso é o que importa! disse-me Paulo, responsável pela barraca na areia de Copacabana, em frente à Hilário de Gouveia.

Depois da caminhada matinal, resolvi espiar o mar de perto, bem gelado àquela hora e Paulo se aproximou oferecendo uma cadeira. Agradeci, e falei que só queria dar um mergulho, perguntei se ele poderia olhar meus pertences e ele disse para eu colocá-los na barraca, ficava mais seguro.

Deixei tudo lá e me joguei naquele mar de correnteza forte, mergulhei e me embrulhei em ondas, até cansar e resolver sair. De volta à barraca, em pé, esperei secar, enquanto ouvia causos contados por Paulo. Eram estórias curiosas, engraçadas, sobre frequentadores, turistas torrados e outras gentes. Falou que era bom fisionomista, não esquecia cliente e bom com os números também, guarda tudo na cabeça. Ele contava e sorria mais que tudo. Quando me despedi e sorri de volta, ele disse: "O sorriso é o que importa!"

Amanhã, se não chover, voltarei.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Fernando Pessoa, A Felicidade exige valentia

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas, não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela vá à falência.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.

É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.

É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?

Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

Concentração

Ai, como tá difícil me concentrar hoje... Começo oito coisas ao mesmo tempo e não consigo terminar nenhuma. Se tivesse sol, eu ia à praia.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Textos sumidos

Textos publicados aqui desaparecem misteriosamente no meio da madrugada. Dirigem-se sorrateiramente para páginas impressas.

domingo, 9 de novembro de 2008

Cinema

Lágrimas e mais lágrimas em um filme bacana. Qual? Não digo. Tristeza não tem fim? Tem... Só não sei quando acaba...

Alma

"Mas é doce morrer nesse mar de lembrar
E nunca esquecer
Se eu tivesse mais alma pra dar
Eu daria, isso pra mim é viver."

Linha do Equador
Djavan e Caetano Veloso

Almoço 80

Espumante, espumante, espumante, água pra hidratar; salame italiano, bacalhau feito pelo anfitrião, polenta cortada na linha; risos; a dona da voz no cd, a dona da voz no almoço; foto posada, foto armada, foto-fofoca; risos; espumante, espumante, coca-cola; música anos 70, misturada a Cartola; vermelho no rosto pelo calor e o sol, que sol! o sol se pôs; risos; começa tudo de novo, espumante, coca-cola. Espumante, bacalhau, risos. Por que fui embora mesmo? Ah... a pilha duracell acabou...

sábado, 8 de novembro de 2008

Maresia

Eu cheguei em casa agora, janelas abertas do apê em Copa, cheiro total de maresia. Forte, irresistível aroma, perfume, cheiro de mar. Ai, mar! Outras eras fossem, outro momento, vestia meu biquini e dava um mergulho nas ondas que chamam. Elas chamam. Com esse cheiro maravilhoso, o mar chama. Exige minha presença, povoará meus sonhos por que estou aqui em cima, no décimo andar, louca para um mergulho. Ficará para depois.

Tá bom... Dídi, diferente do que pensei, adorou os óculos, apesar de reclamar que só viu metade.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Óculos novos na parada

Óculos novos na parada, digo, no meu rosto. Agora enxergo tudo e mais. Enxergo até o que não quero ver. "Óculos" do ofício...

Minha mãe achou chiquérrimo! (foi ela quem escolheu, eu não sei escolher óculos), minha prima vai achar horroroso, como acha todos, eu estou adorando.

Eles são mais leves, mais fortes, anti-reflexo, agora não vai cansar tanto ficar muitas horas em frente a esse devorador de almas, chamado lepitopi. Ou, como a outra prima prefere chamar, nótibuqui.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Chuva

Fim da tarde, bunda quadrada, sentada em frente ao computador, chuva forte, de verão antecipado no Rio, lava tudo. Lava calçada e carro, lava árvore com sede, lava gente desprevenida, lava dor, lava a alma, lava o espírito carregado.

Fim da tarde, sentada em frente ao computador, chuva pára, fio de sol aparece no horizonte, sobre o concreto dos edifícios, ilumina. Ilumina calçada e carro, ilumina árvore satisfeita, ilumina gente molhada, ilumina dor, alma e espírito carregado.