domingo, 28 de dezembro de 2008

Escondidinha

Vôo 1954, com destino a Porto Alegre, reunião parcial de família, de 25 de dezembro à primeira semana de janeiro do ano que já bate à porta. Assim que o 737-800 alcança sua altitude de cruzeiro, pego o MP3 player emprestado do meu irmão, com minhas músicas preferidas, as que meu sobrinho chama carinhosamente de "bandas velhas", Elton, Eric, Beatles, Rolling, Sheryl (não tão velha assim), começo a ouvir, fecho os olhos e vou, lentamente, saindo do meu corpo sentado na desconfortável poltrona 5B, subo para o compartimento de bagagem de mão e me escondo lá dentro. Dou uma última olhada e meu corpo continua na mesma posição, só meu espírito inquieto escapou da prisão para explorar as dependências da caixinha voadora. Passeio através das fileiras, observando os outros passageiros, cada um com suas manias e maneiras de enfrentar um vôo de menos de duas horas, um cutuca o nariz, não sei onde irá aquela meleca; outro faz palavras cruzadas, enquanto murmura as respostas; uma jovem adormecida, encosta a cabeça no ombro do vizinho que a olha de soslaio; um bebê chora baixinho, deve estar com dor de ouvido; uma criança fala a palavra "pára" sem parar, irritando todos ao redor; uma senhora bem bonita folheia displicentemente as páginas de uma revista bacana; um casal discute a relação, não sei se a deles ou de ausentes; a velhinha com terço na mão acredita que haverá salvação se todos cairmos no mar; um adolescente com cara de quem não toma banho há três dias, cutuca as unhas negras que não ficarão limpas nem com muito sabão e escovinha. Pessoas múltiplas convivem um tempo obrigatório para chegarem ao seu destino.
Após 90 minutos, o Comandante avisa que aterrissaremos em instantes no aeroporto Salgado Filho e retorno ao meu corpo, desligo a música, coloco o assento na posição correta, aguardo o pouso cada vez mais torto (antigamente os pilotos tinham mais habilidade, mas pelo visto, esses voaram para fora do país e das companhias brasileiras) e piso, pela terceira vez no ano, na cidade que guarda parte saudosa de mim mesma com minha família.

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Provavelmente última postagem de 2008, com todos os acentos intactos. Freqüentemente, ano que vem, terei que consultar oráculos não para saber a sorte do dia, mas para confirmar se aquele hífen ainda existe, se o acento caiu, se os "esses" dobraram, só o trema será uma unanimidade. Ai que pena! Eu gostava tanto das regras antigas! Meu próximo vôo será um voo faltando um pedaço.

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Pela ordem: Para 2009: Saúde, Paz, Amor, Sucesso e Prosperidade!

MPV - dezembro 2008

domingo, 21 de dezembro de 2008

Conversa entre mãe e filha

CONVERSA VERÍDICA ENTRE MÃE E FILHA DE QUASE QUATRO ANOS, SOBRE O NAMORADO OFICIAL DA MENINA (NAMORADO OFICIAL É PORQUE TANTO ELA, QUANTO ELE SE APRESENTAM A TODOS COMO UM CASAL. ELE AINDA VAI FAZER QUATRO ANOS TAMBÉM).


MÃE (desligando o telefone com a mãe do Carlos*, após combinação):
Carolina*, vamos nos arrumar logo porque o Carlos tá no banho e logo vai passar aqui.

CAROLINA:
O Carlos tá no banho? Isso quer dizer que o pinto dele tá molhado?

MÃE (surpresa):
Como assim, Carolina? Isso quer dizer que o corpo todo dele tá molhado, ele tá no banho!

CAROLINA (não satisfeita):
Mas o pinto dele tá molhado?

MÃE:
Tá molhado, filha. Vamos acabar de nos arrumar, porque papai também tá se arrumando para sair?

CAROLINA (resignada):
Tá.


PASSAM-SE ALGUNS MINUTOS, MÃE E FILHA ACABAM DE SE ARRUMAR E SENTAM-SE NA SALA. O PAI DESPEDE-SE DELAS E SAI.


CAROLINA:
Mãe, agora que o papai saiu a gente pode falar sobre o pinto do Carlos?

MÃE (novamente surpresa):
Carolina, o que mais você quer saber sobre esse assunto?

CAROLINA:
Mãe, será que o pinto do Carlos já tá seco?


* Nomes fictícios

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Desejos para 2009

“É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso chuva para florir”
Almir Sater/ Renato Teixeira

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Verão? Que Verão?

Quase Natal. Verão no calendário do Rio de Janeiro. Só no calendário. Turistas branquelos como eu andando pelas ruas da cidade com moletons amarrados na cintura! Desde domingo, para sair de casa, carrego guarda-chuva na bolsa e visto casaco de couro. Não chega a ser lã, é certo, mas é um casaco, no mês fervilhante, na estação do inferno. Ontem esqueci o guarda-chuva em casa e só me dei conta na rua. Tive que andar uns três quarteirões até encontrar um camelô vendendo o dito que dura, no máximo, cinco chuvas de menor potência e sem vento.

Normalmente, em outros anos, estaríamos todos resfriados de tanto entrar em ambientes congelantes por causa do ar-refrigerado regulado em temperatura de inverno nórdico e sair para a rua e encarar um calor trópico-africano. E as praias pululando de gente rosada e/ou torrada.

Não dá para acreditar nesse clima. Ainda bem que vou para Zurich e já me disseram que a praia lá tá ótima.

MPV - dezembro 2008

Shee no FRio de Janeiro


Árvore de Natal

Outra noite, voltando para casa, comecei a reparar nos edifícios pelos quais passava, todos, todos, com as portarias piscando pelas luzes penduradas nas árvores de Natal dos condomínios. Todas acesas! Cada uma em seu formato, umas feias, outras horrorosas, outras ainda com neve artificial mostrando o clima atual do Rio e o mau gosto dos síndicos, ou dos decoradores oficiais de portarias.

Cheguei em casa e descobri que a portaria de meu prédio não tem decoração de Natal! Não tem árvore, papai noel, enfeite, nem cores vermelha e verde, nada. Resolvi subir ao último andar, descer pelas escadas e vi que nenhuma porta tem guirlanda, flâmula de Boas Festas, nada, nada, nada. Levei um susto. Roubaram o Natal do meu edifício! Acho que por lá, o calendário pula de 23 de dezembro para 2 de janeiro.

Não... tem alguma coisa errada... eu vi uma “caixinha” de Natal na mesa da portaria... De qualquer jeito, pedi uma cópia do estatuto do condomínio para saber se, pelo menos, a gente pode desejar Feliz Natal a quem encontrar pelos corredores.

MPV - dezembro 2008

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Receita magra

Agora que chegou o período em que a gente bebe até cair e come até explodir, Mammy Magg resolveu inventar uma receita que limpa tudo, limpa organismo, limpa gorduras localizadas, limpa chão de cozinha, alimenta, só faz bem e não é nescau.

É um suco super-poderoso, a gente bate tudo no liquidificador, bebe dois copos enooormes pela manhã e fecha os olhos quando passar em frente aos bolos, chocolates, empadinhas e lingüicinhas.

Ele leva, obrigatoriamente, cinco ingredientes: aipo (as folhas entram!), curcuma (ah...vão descobrir o que é, do mesmo jeito que eu...), alecrim, gengibre, limão - tudo fresco! Nada enlatado ou desidratado.

E mais o que cada um gostar: salsa, manjericão, hortelã, mamão, melão, melancia, maçã, outras frutas magras, maaaaaagras, de acordo com a preferência (banana está banida do suco). As quantidades são no olho, também de acordo com o paladar.

Acrescente bastante água e bata tudo no liquidificador. O meu, hoje, fiz com os ingredientes obrigatórios, mais tomate, cenoura e maçã. Ficou uma gororoba de cor indefinível e deliciosa.

Bebido o suco, será que quer dizer que tenho que fingir não ver, quando abrir a geladeira e der de cara com o salaminho, o queijo brie, o vinho, as queijadinhas portuguesas?

MPV - dezembro 2008

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

As quatro Guerreiras

Ink, Mammy, Pellyz e Channy, as quatro guerreiras

Se Lipo estava assim...


Se Lipo, ao fim da festa, estava assim, imagina o resto...

Crônica do Coração Imperioso - Adriana


Minha amiga Adriana, Dida, Ink, como quer que a chamem, escreveu esse texto para a nossa festa de fim de ano. Cada um deveria levar, além de muita bebida, um texto que lhe falasse ao coração e esse foi o dela. Não só fala ao coração, como fala de seu coração, insubordinado, levado, traiçoeiro e gaiato. Linda amiga, grande coração.

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Meu coração, este insubordinado, pede, antes de tudo, que perdoe sua indiscrição, mas avisa que nada pode fazer, já que esta é sua natureza - e isto eu posso provar que é verdade: acelera na hora errada, me faz sufocar e perder o chão, e quando mais preciso, subverte as leis mais naturais!

Mas, por força de sua posição de liderança que, de uma forma ou de outra, acaba exercendo, me convenceu a dar um aviso que insiste em grudar nas paredes, muros, rios, montanhas, e até nos labirintos de todo o meu ser e, ainda agora, tarde da noite, resolveu repetir a mesma música mil e uma vezes lá dentro dele como último recurso pra me fazer falar!

Por isso, também eu peço desculpas, pois não consegui governar este “negócio” aqui no meu peito, e também pela falta completa de explicação razoável....... Assim é este meu coração: quer porque quer, e não importa o tempo, os compromissos, e toda a vida ordinária, porque seu querer reveste tudo de uma urgência muito urgente mesmo!

Enfim, meu coração exige a sua presença e, petulante, também um beijo demorado – e ele acha que é pouco!

Mais uma vez, peço, encarecidamente, que perdoe minha ingerência, e espero que compreenda que nada pude fazer para calar a voz de tão insubordinado habitante!

Despedimo-nos, eu e meu coração, esperando sua resposta a tão estranha cartinha.

Adriana de Broux.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Graves cartas grávidas do exílio

Sempre escrevi cartas. Sempre gostei de lê-las, as minhas, as respostas às minhas, as dos outros – quando permitido, claro – as respostas às dos outros. Sempre escrevi cartas, repletas de saudades, muita curiosidade, com alguma expectativa, prenhes de perguntas. Perguntas para mim mesma, perguntas para os destinatários, perguntas objetivas, perguntas sem resposta.

Sempre gostei de cartas, Paul Eluard a Gala, Fernando Pessoa para vários, Rodolfo Konder para meus pais, Mario de Andrade para Fernando Sabino, correspondências entre Fernando Sabino e Clarice Lispector, Hannah Arendt e Mary McCarthy, Rainer Maria Rilke e Franz Kappus, minha irmã e eu, extratos de vida descritos em pequenos pedaços de papel.

Quando me exilei voluntariamente em Lisboa, nos anos 90, escrevi caminhões de cartas para minha família, depois catalogadas por ordem cronológica e hoje são uma perfeita fotografia daquele período. Nada melhor do que reler uma carta para sentir novamente o gosto, o cheiro, rever o lugar ou situação descrita, o aperto no coração, a sensação de alegria, o que quer que tenha motivado a escrita da missiva. Em alguns momentos, cartas graves, em outros, alegres, em muitos, breves.

No curto espaço de tempo entre o correio a galope e a mensagem instantânea, existiu o correio eletrônico e desse tempo, não tão longe assim, também guardo, em papel impresso, as cartas trocadas por esse meio, com amigos e amores. Elas têm o seu valor, claro, mas nada que substitua a surpresa de pegar o envelope embaixo da porta ao entrar em casa, após um dia exaustivo de trabalho e calor, olhar o remetente, observar o selo ou carimbo, a data e o local da postagem, calcular quanto tempo levou para chegar.

Ai, cartas! Empoeiradas graves cartas grávidas do exílio que me fazem fungar e espirrar agora.


MPV – dezembro 2008


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Dois trechos de cartas que eu gostaria de ter escrito:


Carta de Fernando Sabino para Clarice Lispector - Nova York, 10 de junho de 1946

“Tenho feito descobertas importantes, por exemplo: o pecado é simplesmente tudo o que Cristo não fez. Tenho conhecido sujeitos famosos, por exemplo: Duke Ellington. Tenho tido muita saudade de minha filha. Tenho tido muito pouco dinheiro. Tenho tido muitas oportunidades de ficar calado. Tenho tido muita decepção com os Correios. Tenho tido cansaço, saudade e calma. Tenho bebido muito, muito, muito. Tenho lido os suplementos dominicais. Tenho tido vontade de voltar. Tenho escrito muitas cartas para você. Tenho dormido muito pouco. Tenho xingado muito o Getúlio. Tenho tido muito medo de morrer. Tenho faltado muita missa aos domingos. Tenho tido muita pena de Helena ter se casado comigo. Tenho tido dor de dente. Tenho certeza que não volto mais. Tenho contado muito nos dedos. Tenho franzido muito o sobrolho. Tenho falado muito com os meus botões. Tenho tido muita vontade de brincar. Tenho feito muitas manifestações de apreço ao Senhor Diretor. Clarice, estou perdido no meio de tantos particípios passados.”


Carta de Fernando Sabino para Clarice Lispector - Nova York, 6 de julho de 1946

“Viver devagar é que é bom, e entreviver-se, amando, desejando e sofrendo, avançando e recuando, tirando das coisas ao redor uma íntima compensação, recriando em si mesmo a reserva dos outros e vivendo em uníssono. Isso é que é viver, e viver afinal é questão de paciência.”

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Rio, 40 Graus


Cópia restaurada de Rio 40 Graus, do cineasta Nelson Pereira do Santos, marco do cinema nacional, em breve em dvds, perfeita descrição de uma sociedade cuja essência permanece a mesma 53 anos após retratada no filme, cotidiano atual agravado pelos problemas crescentes e violência sem limites. Como se mantêm as mazelas retratadas na trama envolvente, com diálogos ágeis. Primeira vez que assisti à película na tela grande, no escurinho do cinema, com orgulho pela obra-prima, certo amargor por não ver luz no fim do túnel para a nossa cidade cada vez mais carente e mais difícil de administrar.

Quem nunca viu, veja. É ordem, daquelas coisas que não se pode deixar de fazer na vida. Quem já viu, repita a dose. Não cansa nunca e tem sempre algo mais a descobrir.
Foto: Cartaz do filme

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Vários

Hoje tem abertura da mostra Retrospectiva Nelson Pereira dos Santos na ABL. Eu vou.


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Árvore da Lagoa inaugurada, acabou o ano, piorou o trânsito.

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Este ano, vai ter Natal em família, o que não acontece há muito tempo.... Encontro planejado, festa, menu e música, filme produzido, malas por fazer... Todos contamos os dias...

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Livro Degraus no forno. Sai até semana que vem.

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Que notícia maravilhosa! Zizou vai ser papai. Suas namoradas cresceram e já podem procriar, mas... qual das duas estará grávida? Dália ou Dominique? Ou as duas? Vou descobrir... Mamãe disse que, então, eu vou ser vovó! ha ha ha! Imagina como serão lindinhos os filhotes!

Na verdade, soube agora, nenhuma está grávida ainda, mas estarão no próximo mês. As duas, juntas. Zizou vai honrar a família com a jornada dupla! ha ha ha!