quarta-feira, 20 de maio de 2009

A Mesma História

Fontes seguras informam sem hesitar,
Dizem as más línguas,

Que na travessia do hemisfério Sul para o Norte
Que no voo internacional São Paulo-Miami,

Após uma semana de comemorações inesquecíveis,
Após uma semana enchendo a cara de cachaça,

A moça bonita, delicada e cheirosa,
A bebum farrista com hálito de álcool,

Que não consegue descansar em aviões,
Que nunca dorme naquela caixinha infernal de poltronas apertadas,

Encontrou uma posição confortável,
Encostou no ombro da velha gorda sentada ao lado,

E adormeceu serenamente.
E dormiu de roncar e babar no ombro da velha.

Mais tarde, foi gentilmente acordada pela doce aeromoça,
Lá pelas tantas, foi sacudida pela aeromoça impaciente,

Perguntando se a moça bonita estaria com fome,
Perguntando se a bebum queria comer,

Servindo, em seguida, um apetitoso jantar.
Entregando, em seguida, uma gororoba inominável.

No momento do jantar,
Para comer a gororoba,

A moça bonita saiu de sua posição inicial e esticou os braços, suspirando,
A bebum desencostou da velha resmungona e se espreguiçou, bocejando alto,

E calmamente apreciou o banquete.
E se atracou com a comida que não via há mais de doze horas.

Terminado o serviço de bordo,
Terminado o corre-corre das aeromoças,

A moça bonita e cheirosa se acomodou novamente para descansar.
A bebum com cheiro de álcool desmaiou novamente no ombro da velha gorducha.

Ao chegar em seu destino,
Quando chegou,

A moça bonita e cheirosa,
A farrista alcoolizada,

Espantada, exclamou em doce voz:
Espantada, berrou:

“Nossa, é a primeira vez que consigo adormecer por tanto tempo em um avião!”
“Putz! É a primeira vez que consigo desmaiar durante o voo.”

“Também... Fiquei tão cansada durante a semana...”
“Também... Bebi todas durante a semana!”

MPV – maio, 2009

terça-feira, 19 de maio de 2009

Vinte anos sem nós

E num piscar de olhos os anos voaram, passaram sem que sentíssemos, sentindo minuto a minuto que não estávamos ali onde éramos suposto estar. Não há fotos, não há lembranças, não há momentos passados, não há risos inesquecíveis. Não estivemos juntos nos casamentos, nascimentos, no crescimento, não vivemos.

Vinte anos sem nós mesmos. E agora, o outono, já no inverno, tentamos rir o que ficou preso, beber os brindes não feitos, até cair, literalmente, no chão, rolados da cama. Somos carregados no colo das emoções não vividas e choramos novamente quando o tempo voa e é hora de partir. Cada um em um canto do planeta, tentando reconstruir em breves reencontros o lego familiar que ficou sem telhado.

A lacuna irrecuperável em nossa linha da vida, essa jamais será preenchida, já passou e não estávamos lá.

MPV – maio 2009