quinta-feira, 22 de julho de 2010

Força Nh'irmon




 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Hoje meu amigo Luis Castro faz aniversário. Lá do outro lado do Atlântico ele vai festejar e cantar parabéns de uma forma diferente daqui do Brasil, em uma língua parecida com a nossa, na noite que já começa a cair sobre Lisboa. Penso: estará cercado dos amigos? Será somente a família? Ou irá se esconder como fazem algumas de minhas amigas esquisitas por aqui?

Nós trabalhamos juntos na mesma empresa, o senhor engenheiro Castro, Rosalina, Mariola e outros, mas sinto mesmo saudades desses três. A paciência que ele tinha com minhas perguntas e a quantidade delas! Entre outras coisas, Luis me ensinou a fazer planilhas com fórmulas imensas, tão grandes que não sei se ainda me lembro.

Certa vez, me deu um cd do Djurumani, compositor e cantor cabo-verdiano, radicado em Portugal há quase trinta anos que canta: “Ô ‘rmon ca bô desanima / bô sabê qu’esse mundo ê ‘sim: / dia purriba dia purbóxe / bá ta remá tê que bô tchega”

Hoje o dia é dele.


 
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Enviado do...

Bons eram os tempos em que eu falava ao telefone com minhas irmã, mãe, tia e, diante de um silêncio fora de hora, perguntava: "O que tá passando na tv que fez você ficar muda?" Diante do flagra, o riso. E isso era motivo para mais conversa.

Agora, enquanto conversamos pessoalmente, dividimos nossa tagarelice com os olhos inquietos e mentes subdivididas dos sobrinhos e amigos mais novos, que falam conosco, teclam seus smartfones, postam no facebook, "tuítam e retuítam" assistem tv e jogam ao mesmo tempo.

O almoço tranquilo de outrora foi trocado por um sem número de funções executadas ao mesmo tempo, à mesa do restaurante, enquanto a conversa e algumas discussões de praxe rolam. Isso deixa qualquer um com mais de 40 exausto!

Porém, no meio da multitarefa dos cérebros eletrônicos multimídia com que nasceram os mais novos, nada me deixa mais incomodada do que as mensagens recebidas na caixa postal com o PS do século XXI: "Enviado do meu Blackbery", ou "Enviado do meu Iphone", ou... etc.

Que irritação quando leio esses GPS fora de lugar! Certa vez a Cora Rónai escreveu uma crônica querendo descobrir como desabilitava esse tipo de mensagem que os fabricantes e operadoras de celular utilizam para se promover gratutitamente depois de pagarmos uma fortuna por cada aparelhinho desses. Não sei se ela teve sucesso, mas gostaria que todos pensassem da mesma maneira. Uma certa discrição continua como sinônimo de elegância.

Tenho a impressão que o próximo passo será uma mensagem mais ou menos assim: "Enviado do meu Blackberry, enquanto lia o segundo caderno, no banheiro da casa de mamãe - Latitude: 22º 54' 10" S Longitude: 43º 12' 27" O, para melhor visualização acessar o Google maps na página..."

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Woody Allen

A incumbência proposta por uma amiga de escrever o porquê adoro os filmes de Woody Allen e quais são os meus cinco preferidos parecia bem mais fácil antes de eu realmente colocar a mão na massa. Primeiro, porque escolher somente cinco é uma tarefa quase impossível para quem gosta de tudo o que ele produziu. Até nos filmes que não têm mérito algum para a crítica, eu descubro uma frase, uma cena, um corte que me agradam. Segundo, porque mesmo sendo iguais ou parecidos, são diferentes, sempre há um algo mais que ficou por ser dito, sempre há um mesmo algo que vale ser repetido.

Quando reduzi a minha lista aos cinco filmes a seguir, segui critérios pessoais como os que assisto com mais frequencia ao longo dos anos, os que modificaram a maneira de pensar determinado assunto de minha vida, os que têm cenas antológicas das quais me lembro em momentos diferentes: Alice Tate se tornando visível aos olhos enquanto espiava seu affair, Harry descendo no elevador do inferno, Marion recusando o amor de Larry para se casar com um boboca, Annie tentando dar continuidade ao primeiro encontro, de forma totalmente atrapalhada, Chris tendo uma crise de culpa enquanto a mulher Chloe dorme um sono tranquilo e muitas outras.

Além de tudo, o que gosto imensamente nos filmes de Woody Allen são seus diálogos magníficos, com as neuroses e idiossincrasias de todo dia. Não à toa, adoro o texto The Kugelmass Episode, publicado no livro Side Effects, em que Mr. Kugelmass, cansado da vida rotineira que tem, procura um mágico que o transporta para dentro do livro Madame Bovary. A partir daí, Kugelmass, típico judeu entediado na Manhattan do século XX tem uma grande história de amor com Emma Bovary, personagem de Flaubert no século XIX.

Fantasia e realidade neurótica são ingredientes constantes em seus filmes e em minha vida. Adoro os diálogos com as crises familiares que vivemos dia após dia. Amo me reconhecer, à minha família, aos meus amigos nas palavras irônicas e debochadas, em cenas ótimas.

ANNIE HALL – 1977

O universo está se expandindo, mas a vida é agora.

Acredito ter sido o primeiro Woody Allen que assisti. Intensa combinação de comédia, frases irônicas e a ansiedade dos inícios e términos de relacionamentos amorosos. O filme inteiro, editado com fusão de corte de imagens de passado e futuro, é primoroso, mas gosto imensamente de algumas cenas: Alvin Singer (Woody Allen) e Annie Hall (Diane Keaton) estão na fila do cinema e um homem começa a dissertar sobre teorias filosóficas e de comunicação, o que deixa Alvin profundamente irritado com as bobagens. Até que o homem cita Marshall McLuhann de forma errada e Alvin traz o próprio filósofo, que faz uma ponta no filme, para contradizer o homem, olhando e falando com a câmera, como se tivesse falando diretamente para o espectador. Esse recurso é usado por Allen em vários outros momentos. Ao fim da cena, Alvin/Allen olha para a câmera e acrescenta: “se a vida fosse simples assim...”

Outra cena que gosto é quando Alvin e Annie vão “pessoalmente” visitar os amores passados de ambos. Ele debocha de frases dos antigos namorados de Annie e vai transmitindo cultura e conhecimento a uma ingênua Annie.

O desenrolar do primeiro encontro dos dois leva a um diálogo onde cada um fala algo, mas pensa outra coisa e ambas as frases – a falada e a pensada – são mostradas. Quem nunca passou por isso?

Em visita a Los Angeles, o casal conhece um empresário da música, look total anos 70, que é vivido por Paul Simon, em atuação surpreendente.

Alvin/Allen transforma o romance com Annie em peça de teatro e assiste ao ensaio. Terminada a cena, vira-se para a câmera e diz: “O que você queria? É minha primeira peça. Sabe como sempre tenta fazer tudo sair perfeito em arte, porque na vida é difícil...”

ANOTHER WOMAN – 1988

“Às vezes me questiono se fiz a escolha certa” (Marion)

Marion (Gena Rowlands) é uma professora de filosofia, escritora bem sucedida e reconhecida por mudar a visão de mundo e a vida de seus alunos. No entanto, tem um total bloqueio em enxergar a sua própria vida: tem uma relação afastada com o irmão, não vê há anos sua melhor amiga de juventude, está em um segundo casamento formal, não tem filhos e um amor que poderia ter sido, mas não foi (Gene Hackman/Larry Lewis). Quando, inesperadamente, ouve as conversas do vizinho terapeuta com seus pacientes, passa a avaliar o que tem sido sua vida até então.

Ela tem um sonho que mistura vários personagens de sua vida, inclusive seu pai que diz para o terapeuta: “Agora que minha vida está chegando ao fim, eu tenho somente arrependimentos. Arrependimento de que a mulher com quem compartilhei minha vida não tenha sido a mesma a quem amei mais profundamente; arrependimento de não existir amor entre meu filho e eu – isso é minha culpa; arrependimento de que talvez eu tenha sido muito duro com minha filha, muito exigente, de que eu não tenha dado carinho suficiente.”

A partir de várias descobertas, Marion resolve modificar sua vida. A cena em que ela lê o livro de Larry e se enxerga como a personagem Helenka é bem bonita. Posso dizer, sem sombra de dúvida, que esse é o filme de Allen que me tocou mais profundamente e, depois dele, mudei muitas coisas.

ALICE – 1990

“O problema não é nas costas. O problema é aqui (aponta para a cabeça) e aqui (aponta para o coração).” (Dr. Yang)

Alice Tate (Mia Farrow) é uma dona de casa rica, católica, casada com Doug (William Hurt) há 16 anos, com quem tem duas filhas. Uma dor nas costas a leva ao Dr. Yang, que tem uma variedade de pós mágicos que a permite ser invisível para enxergar o que de fato acontece em sua vida.

(Dr. Yang): O que você vê?
(Alice): Pinguins. Eles se unem para sempre
(Dr. Yang): É? Você acha que os pinguins são católicos?

O realismo fantástico dessa comédia fez com que eu quisesse um Dr. Yang e seus pós mágicos, sem efeitos colaterais, em minha vida. Quem nunca quis ser um inseto pequenino para ver pessoalmente um acontecimento e descobrir verdades?

DECONSTRUCTING HARRY – 1996

“As palavras mais belas da língua não são ‘eu te amo’. São ‘é benigno’.” (Harry Block)

Harry é um escritor que utiliza passagens literais de sua vida com amigos, mulheres e ex-mulheres em seus livros, causando grande confusão, já que coloca a descoberto tudo o que foi vivido na intimidade. Ele tem discussões com seu alter ego, personagem do livro, que faz uma análise muito mais acurada da vida do que o próprio Harry/Allen consegue enxergar.

(Harry): Eu não vou ficar aqui ouvindo sermões da minha própria criação! Como você sabe tanto?
(Harry/Ken) Eu sou você, um pouco disfarçado, você me deu mais maturidade e um nome diferente...

Muitas vezes Harry tem um bloqueio criativo e em um conto em que estava trabalhando, Mel (Robin Williams) é um ator que sai do foco, atrapalhando as filmagens e a convivência em família. Todos o enxergam desfocado, o que obriga sua esposa e seus filhos a usarem óculos para voltar a enxergá-lo direito. Ou seja: todos têm que se adaptar para que a harmonia familiar seja reestabelecida.

Cena que adoro: Harry no elevador em direção ao último andar do inferno. Conforme desce, uma voz vai enumerando: "5º andar: agressores, mendigos e críticos literários; 6º andar: extremistas de direita, assassinos e advogados de tv; 7º andar: mídia - andar lotado; 8º andar: criminosos de guerra, evangelistas de tv e membros da Associação Nacional de Rifles; último andar: obrigatória a saída.

Gosto do humor ácido, politicamente incorreto, do personagem que fala o que quer, quando quer e transgride leis socialmente aceitas ou impostas sem que isso o aflija ou o tormente.

MATCH POINT – 2005

“O homem que disse ‘eu prefiro ter sorte a ser bom’ entendeu o significado da vida. As pessoas temem ver como grande parte da vida depende da sorte. É assustador pensar que boa parte dela foge do nosso controle.” (narrador)

Crime e Castigo – Dostoiévski logo de cara, em uma das primeiras cenas com o personagem Chris Wilton/Jonathan Rhys Meyers lendo o livro, fica claro o que virá pela frente.

O que gosto no filme: O texto de abertura, a bolinha de tênis, os gestos meticulosos e estudados de Chris Wilton, o desejo que quase o põe tudo a perder, o plano perfeito, a ação assassina, a aliança que cai do lado certo, apesar de parecer ser lado errado, a conversa com os mortos, o sentimento de culpa, a sorte sempre presente desde o primeiro momento. O Dostoiévski repaginado.

Um filme de Woody Allen sem muito Woody Allen, mas pleno de Woody Allen.

Como parar por aqui? Acho que ainda volto ao assunto e elaboro outra lista. E outra, e outra, e mais outra...

A dama e a bandeira

Pedro era um rapaz muito envergonhado. Estava sempre com os olhos grudados no chão, caminhava devagar com as mãos nos bolsos, falava baixo e pouco. Só conversava se puxassem conversa com ele, nunca tomava a iniciativa. Não se olhava no espelho e evitava locais que pudessem refletir sua figura: achava-se esquisito. Gostava mesmo da internet com câmera desligada e dos jogos no computador.


Certo dia, por curiosidade, resolveu passear pelas páginas de amigos no site de relacionamentos e encontrou um nome novo: Carol. Carol… Carol quem seria? No lugar da foto tinha uma carta comum de baralho, uma dama de copas. Tentando lembrar se a conhecia, apoiou o cotovelo na mesa e, olhando para o teto, esbarrou no teclado abrindo uma janela de conversa. Entrou em pânico, mas antes que pudesse desligar o computador, Carol respondeu com um “oi” todo florido. Pedro prendeu a respiração e por pouco não apertou o botão power. Respondeu um “olá”, e em seguida pediu desculpas. Carol quis saber por que ele pedira desculpas, Pedro não soube responder. Ele perguntou por que ela perguntara aquilo, Carol engasgou no teclado. Passaram horas fazendo perguntas para o outro, até que chegou a noite e chegou a hora do jantar e chegou a hora de dormir.

Carol, no jeito de ser, era parecida com Pedro. Tinha vergonha dos seus cabelos ruivos que chamavam muita atenção e olhava para baixo quando caminhava. Não tinha o costume de conversar no computador, nem no telefone. Era uma moça muito quieta e quando escreveu o “oi” florido para o Pedro foi sem querer: queria ver como era aquele “oi” cheio de flores em volta. Mas Pedro respondeu em vez de desligar.

No dia seguinte, quando Carol ligou o computador, Pedro já estava lá à espera dela. Conversaram, fizeram perguntas um para o outro e começaram a respondê-las. No terceiro dia, Carol chegou antes de Pedro e conversaram, contaram histórias das famílias, falaram de amigos, trocaram ideias sobre livros, revistas, músicas e filmes. Descobriram que gostavam dos mesmos livros, liam as mesmas revistas, baixavam as mesmas músicas e compravam os mesmos filmes.

Muito tempo se passou desde o primeiro encontro no computador. Pedro e Carol eram amigos, mas nunca tinham se visto. No computador, Carol era a dama de copas e Pedro era a bandeira do Flamengo. O vermelho e o preto predominavam, gostavam das mesmas cores.

Um belo dia, descobriram que frequentavam a mesma sorveteria, pediam sempre o mesmo sabor, era possível que já tivessem passado um pelo outro sem saber. Marcaram um encontro: Pedro sugeriu o dia, Carol disse a hora. Pedro acreditou que a iniciativa de marcar o encontro havia sido dele, Carol pensou que fora dela. Pedro e Carol vestiriam camisetas vermelhas para que pudessem se reconhecer.

No dia marcado, na hora combinada, Pedro e Carol chegaram praticamente ao mesmo tempo em uma sorveteria com muitas outras pessoas vestidas de vermelho. Tinha mãe com bebê no colo,

tinha avô com bigodes grandes, tinha pais e filhos, tinha muita gente, todos vestidos de vermelho, saídos de uma festa no clube ao lado.

Pedro, com as mãos nos bolsos, e Carol, com os olhos no chão, pareciam fazer parte da turma da festa no clube. Pedro com os olhos baixos e Carol com os braços cruzados foram se distanciando do balcão, foram andando para fora da sorveteria, foram caminhando para a beira da calçada até que esbarraram um no outro. “Desculpa!” exclamaram ao mesmo tempo em que se olharam. Pedro ficou encantado com aquela moça de cabelos vermelhos e olhos verdes, tão bonita que parecia ter saído de um dos contos de fadas que sua irmã mais nova costumava reler. Carol olhou para Pedro e sentiu faltar uma batida no coração quando ele sorriu ao pedir desculpas. Ele era mais alto que ela, tinha os cabelos castanhos claros e olhos cor de mel. Carol nem imaginava que aquele rapaz bonito era o Pedro com quem ela conversava. Um rapaz bonito daquele jeito nunca olharia para ela, a desengonçada de cabelos vermelhos. Não passou pela cabeça de Pedro que aquela moça linda era a Carol-dama de copas. Uma moça formosa assim não olharia para ele, sujeito tão esquisito.

Nenhum dos dois disse nada, distanciaram-se um do outro, ainda olharam em volta. A sorveteria continuava cheia de pessoas vestindo vermelho. Nunca se encontrariam ali. Não era o dia, não era para acontecer.

Pedro começou a caminhar com as mãos nos bolsos, de volta para casa, quando ouviu alguém gritar seu nome:

– “Pedro!” Quando ele se virou, estava Rodrigo, seu amigo de infância, ao lado da moça de cabelos vermelhos.

– “Que coincidência!” disse Rodrigo para ele. – “Encontrar você e Carol aqui na sorveteria hoje!”

Carol e Pedro se olharam. A dama da copas e a bandeira do Flamengo deram lugar a uma bela moça de cabelos vermelhos e a um rapaz bonito com um sorriso contagiante. Pedro e Carol, envergonhados, mas satisfeitos, pediram um sundae de floresta negra, o sabor preferido dos dois, e conversaram de verdade pela primeira vez.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

O que posso fazer?


Essa é minha flor. Prestes a completar oito anos de muita estripulia e farra, já apresenta os sinais inegáveis da idade: seu pelo está ficando branco no focinho, ao redor dos olhos, no queixo, nas patinhas.

Seu maior tesouro é o ossinho comestível diet que ela rói, esconde, larga, pega, rói mais um pouquinho e tenta enterrar no piso sólido de madeira, sem se dar conta que a terra ficou para trás.

Dizem que os cães escolhem o chefe da matilha e, em nossa convivência nesses anos, pude comprovar que eles - ou no caso, ela - tem seus humanos preferidos. O que nós não conseguimos ainda, eles sabem: Gostam verdadeiramente de quem gosta deles e ficam longe quando o amor não é correspondido.

O eleito de minha flor é meu irmão. Nossa! Como ela gosta dele! Não dá para descrever todas as suas reações em presença de seu eleito, mas dá para fotografar. Ela aí na foto acima preferiu o par de meias usadas por meu irmão e deixou de lado seu tesouro da semana: o ossinho, inteiro, intacto no chão. Correu pela casa, saltitou, rosnou para quem tentou tirar as meias de seu poder, fez e aconteceu. Por ela, teria enterrado no assoalho sua joia muito mais valiosa, mas foi vencida pela insistência de minha mãe que achou o fim ela preferir meias suadas ao prato de ração.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Enquanto eu faço a lista

ELA: Você está me enviando mensagens para o e-mail que uso como back up... Quase nunca o abro e só hoje vi suas mensagens antigas...


ELE: Tá bom, em qual dos seus três endereços você prefere receber minhas mensagens?

ELA: Queridinho, prefiro este aqui. Um eu uso para assuntos urgentes e outro, como já disse, só para back up. Aliás, como você conseguiu esse endereço já que não divulgo nunca?

Mudando... como anda a família? Vieram para o reveillón escondidos novamente? Poderiam ter ligado, hein?

Por aqui, vamos bem. Eu cansei da vida vagabunda e penso agora sossegar. Você tem algum amigo que queira uma namorada bacana, sem muitas neuroses, que não sufoca, nem reprime companheiro, com alguma cultura e que gosta de tipos variados de programa (Maracanã é exceção – uma vez por ano no máximo! Mas não se incomoda que o gajo vá ver seus jogos com amigos) e que goste de cachorro? Se conhecer, pode mostrar minha foto e dar meu telefone.

Mil beijinhos para a família toda,

ELE: Queridinha, seja feita a sua vontade. Esta sua última mensagem provocou em mim dois sentimentos distintos: O primeiro foi me sentir uma pessoa especial por ter seu endereço particular. O segundo foi a preocupação com aquilo que eu chamo do “Advento da Idade Avançada”, pois suas informações do outro endereço estão na rede social Y. Aparece lá...

ELA: Pronto! Y atualizado! Favor não ignorar minha solicitação: apresente-me um amigo disponível, bacana e carinhoso!

ELE: Aqui da terra? Vai namorar virtualmente? O que entende por disponível?

ELA: aiaiai! Tico e Teco não estão conversando hoje por aí? É o calor??? CLARO que não é daí, é daqui mesmo! CLARO que disponível quer dizer que não tenho interesse em homens comprometidos (namorado, casado, juntado, etc). Entendeu ou precisa que eu desenhe???

ELE: Alguma chance de subir serra?

ELA: Ahhhhhhh chega, né? O mais longe que me proponho a ir pelo coração é a Barra e se ele for MUITO posso chegar ao Recreio...

ELE: Vocês só querem molezinha, né? Também tem que ter grana, ser culto, bonito e não precisar de viagra, suponho...

ELA: Não, não, não.... Faço a lista bem explicadinha:

1) grana o suficiente para não me pedir para pagar o cinema dele TAMBÉM.

2) culto o bastante para conversar comigo e não ficar falando “aí, tá ligado?”

3) bonito é um conceito MUITO relativo. Ser charmoso e gentil é mais importante que beleza.

4) quanto ao viagra, se usa ou não é com ele, contanto que dê conta do recado...

Viu? Nem um pouco exigente.


ELE: Sei... Agora ficou mais fácil, tinha me esquecido dos detalhes gentileza e charme... Enquanto eu faço a lista, dá um trato nessa nossa conversa e vende como crônica para algum jornal para ver se, pelo menos, salva o final de semana!

ELA: Feita a vossa vontade. Agora arruma o gajo!

domingo, 17 de janeiro de 2010

Os 40 de Bella

Bella fez 40. Fez festa, dança, batucada, noite estrelada e quente neste Forno de Janeiro em que se transformou a cidade. Noite de astral elevado. Noite de riso e comemoração. Muitos foram, alguns fizeram falta. Mas Bella e Bi, com as crianças em casa, dormindo como anjinhos, foram perfeitos anfitriões de linda festa. Gostaria de uma dessas a cada semana.


MPV – janeiro 2010

O filho do vento

As coisas são possíveis. Fazer acontecer. A imagem do sujeito dançando e agitando as pessoas ao redor ficou marcada em minha mente. Era vida. E uma vida bonita. Existia uma aura de paz ao redor dele. Uma pessoa de bem com a vida, quase um anjo, pelas contradições e pela absoluta certeza de que viver vale cada minuto. A certeza do não definitivo que habitava meu coração foi dar um passeio. Quero viver de bem com a vida e com tudo o que me é importante.


Ao filho do vento, com gosto de mar e pele macia, devo o retorno à vida que vale a pena, a percepção das orquídeas, o olhar atento às telas e desenhos que estão dentro de nós, o mergulho no mar quente e salgado e o retorno aos escritos, ao que sempre foi importante para mim e a tudo que releguei a quinto plano.

Algumas vezes fico pensando que gostaria de ter a oportunidade de falar para cada uma das pessoas que não têm a mais remota ideia da importância que exercem em nossa vida em um determinado momento, o que elas significaram para mim e como contribuiram de forma tão marcante para a construção da minha existência. Saber que um gesto pequeno, sem esforço, contribuiu tanto para a vida alguém, deve ser reconfortante.

Talvez algum dia eu tenha a oportunidade de, pelo menos, retribuir. Isso, se também não estiver fazendo a minha parte sem saber.

MPV – janeiro 2010